16 dez Quebrando a barreira dos 200? | Por Rubens Muzio
1. Introdução: O grande potencial das pequenas igrejas locais
As igrejas brasileiras, em sua maioria, são pequenas, rapidamente envelhecem, dificilmente crescem com qualidade e precisam urgentemente de revitalização. Apesar de conhecermos alguns grandes ministérios na vizinhança ou pela mídia, o tamanho médio da igreja local no Brasil não ultrapassa os 200 participantes. Como a igreja evangélica expandiu-se numericamente nos últimos anos, era de se esperar que o tamanho das comunidades locais também crescesse significativamente. Mas isso não aconteceu.[1] Os dados são melhores que as igrejas americanas. Lyle Schaller descreve a média de frequência dos cultos das seguintes denominações, nos EUA (Schaller, 2004, 209):
- Assembleias de Deus: 97 participantes.
- Conferência Geral Batista: 110 participantes.
- Igreja dos irmãos: 58 participantes.
- Igreja do Nazareno: 66 participantes.
- Igreja cristã (Discípulos de Cristo): 71 participantes.
- Igreja Episcopal: 79 participantes.
- Igreja Evangélica do Pacto: 98 participantes.
- Igreja Evangélica livre na América: 135 participantes.
- Igreja Evangélica Luterana na América: 100 participantes.
- Igreja Metodista livre: 56 participantes.
- Igreja Luterana do Sínodo de Missouri: 125 participantes.
- Igreja Presbiteriana na América (PCA): 98 participantes.
- Igreja Presbiteriana (PCUSA): 74 participantes.
- Igreja Reformada na América (RCA): 112 participantes.
- Convenção Batista do Sul: 70 participantes.
- Igreja Unida de Cristo: 74 participantes.
- Igreja Metodista Unida: 53 participantes
- Igreja Wesleyana: 59 participantes
- Igreja Evangélica Luterana do Sínodo de Wisconsin: 93 participantes
Mesmo que a igreja não ultrapasse a barreira dos 200 participantes (há excelentes igrejas pequenas e não estou aqui advogando o crescimento meramente numérico), como desenvolver uma comunidade de discípulos de Jesus com qualidade bíblica e maturidade espiritual que esteja hábil para lidar com as profundas transformações sociais e culturais?
Na sua maioria, as igrejas locais funcionam como grupos sociais semifechados, com famílias amigas e conhecidas que participam dos ministérios locais semanalmente e se envolvem com reuniões departamentais há décadas. Mesmo que sejam grupos amigáveis de boa afinidade, essas comunidades não conseguem lidar com o envelhecimento nem compreender as mudanças sociais e culturais. Sem perceberem, essas comunidades apoiadoras têm imensas dificuldades para aceitar os visitantes, receber novos participantes e desenvolverem-se estruturalmente. Estão repletas de pessoas bem-intencionadas que, apesar de se reunirem nos finais de semana para os cultos e pequenos grupos, meramente se refugiam do stress social e buscam apoio emocional ou espiritual. Raramente se preocupam com sua participação efetiva no Reino de Deus na sociedade onde estão inseridos.
Neste artigo, eu quero apontar quatro desafios que demonstram a importância do tema. Dois desafios são externos: 1) A tensão entre o modelo de igreja rural e urbano e 2) a realidade das igrejas multigeracionais. E dois desafios são internos: 1) o modelo pastoral tradicional e 2) a limitações da cultura organizacional. As respostas que irei sugerir irão focar na missão, visão, estratégias e espiritualidade da igreja local.
Meu propósito aqui é ter um diálogo franco e honesto em busca da energia e vitalidade para o desenvolvimento de líderes e igrejas, considerando os desafios do envelhecimento bem como as exigências geradas pelos complexos processos de revitalização dos modelos eclesiais atuais e da necessidade da criação de novos modelos de ministério que acompanhem as mudanças sociais e culturais.
2. Quatro Desafios
2.1. A complexidade das cidades urbanizadas
Era comum na infância encontrar na sala de uma casa evangélica do interior o quadro dos “dois caminhos” O caminho da direita, do inferno, era a cidade, teatro, bancos, restaurantes, entretenimento, pessoas reunidas, e assim por diante. O caminho da esquerda, do céu, era dos campos, árvores, sol, poucas pessoas. A ideia da cidade como um local hostil, secular, impuro ainda permanece hoje nas pequenas igrejas.
Me recordo de o Dr Charles Van Engen iniciar uma série de preleções sobre missão urbana, na FTSA com as seguintes palavras: “As cidades são o principal campo missionário do século XXI”. Sua afirmação é uma verdade inquietante expressa por vários missiólogos.[2]
A urbanização é um fenômeno mundial. Cerca de metade da população mundial mora em cidades. Na década de 60, a população urbana representava 34% da população do planeta. Esse número saltou para 44% em 1992. Estima-se que 61,01 % da população mundial viverá nas cidades até 2025. Além disso, há cerca de 30 megacidades com uma população igual ou superior a dez milhões de habitantes. Tóquio, Mumbai, Jacarta, Karachi, Lagos e São Paulo são apenas alguns exemplos de cidades que ultrapassam os 20 milhões de habitantes.
Contudo, a cidade não consiste apenas de pessoas e problemas sociais, mas sim uma intricada concentração de valores, culturas, cosmovisões, sonhos, problemas sociais e estruturais. Olhando sob essa perspectiva, é possível entender que a cidade deixou de ser um conceito geográfico e passou a ser um conceito sociológico. As pessoas hoje vivem nas cidades em pequenos grupos culturais, tentando manter as tradições recebidas e inserindo outras que adquiriram ao longo de sua vida. Portanto, os centros urbanos são complexos mosaicos, crescentemente resistentes aos métodos evangelísticos tradicionais usados pelas pequenas igrejas do interior. A igreja precisa estar consciente que o mundo atual exige novos modelos de ministério sensíveis às mudanças socioculturais causadas pela urbanização.[3]
2.2. A realidade dos ambientes eclesiais intergeracionais
Sabemos que as igrejas têm pessoas pertencentes a vários grupos etários que demonstram valores e prioridades divergentes e que também representam diferentes cosmovisões e formas de pensamentos. Eles são chamados pela literatura de seniors, builders, baby boomers, geração X, Y, Z, etc [footonote examples]. Os mais idosos da igreja são os seniores nascidos antes de 1925, os builders (construtores), entre 1926 e 1945 e os baby boomers nascidos com a explosão demográfica após a segunda guerra mundial. Infelizmente não teremos tempo de detalhar cada uma, mas é suficiente dizer que são gerações que inventaram a teoria da administração e concentraram-se nas estruturas corporativas, normas, burocracia, hierarquias, produção, sucesso e assim por diante. A mulher raramente obteve espaço neste mercado profissional. Além de representam uma porção significativa dos pastores das igrejas tradicionais, eles ocupam várias das posições de liderança e influência nos conselhos e ministérios.
A geração X representa as pessoas nascidas aproximadamente entre 1965 e 1980 que, diante das transformações históricas e culturais causadas pela guerra fria, Vietnã, queda do Muro de Berlim e dos grandes estadistas, dentre muitas outras, possuem uma visão claramente contrária à dos padrões estabelecidos pelas gerações anteriores. Essa é a geração que experimentou a MTV, Apple, Microsoft, Tartarugas Ninja, He-Man, Disney Magic Kingdom, Blade Runner, cultura hippie e assim por diante. Inúmeras novidades e mudanças fizeram com que nós (e aqui eu me coloco dentro dela) participássemos de uma completa ruptura ideológica e social com as gerações anteriores. Com a internet e e-mail, essa geração, onde a mulher também encontrou seu espaço no mercado de trabalho, inventou novas metodologias e velozes formas de comunicação e gerenciamento. A geração X, apesar de representar uma geração de líderes que plantou novas comunidades e participou ativamente do movimento evangelísticos brasileiro, divide-se em vários conflitos de influência e poder com os seniors, builders, baby boomers na liderança das igrejas locais.
Por outro lado, a geração Millenials (Y), das pessoas nascidas entre 1980 e 1998 aproximadamente, está ocupando um grande espaço no mercado de trabalho e reinventando o conceito de civilização. Eles conheceram os Power Ranger, Orkut, o Rei Leão, Matrix e cresceram em meio aos twitters, ipods, iphones e androids. Boa parte da vida eles viveram num mix de mundo real e virtual, conectados ao mesmo tempo à família e à internet, escola, amigos no MSN, Facebook e reuniões pelo Skype. Por outro lado, priorizam o entretenimento e relacionamentos, restaurantes, shows, PS4 ou Xbox e fortes grupos sociais online. A busco por propósito, felicidade e equilíbrio em todas as áreas é mais importante que emprego, salário ou escritório. Sem sombra de dúvida, a geração Millenials está transformando a sociedade e a forma como países, organizações e empresas funcionam. Logo em seguida, vem a chamada geração Z, das pessoas que nasceram após 1998 com internet banda larga, google, smartphone, jogos online, e uma série de outros aparelhos eletrônicos. Com acesso e velocidade a um volume incalculável de informações a que nenhuma outra geração teve lhes dá um potencial enorme para as próximas décadas. Eles, sem dúvida terão uso pleno das tecnologias, serão mais focados e conseguirão executar múltiplas atividades com mais qualidade.
Portanto, as igrejas contemporâneas reúnem no mesmo espaço representantes de múltiplas mentalidades seniors, builders, baby boomers, geração X, Millenials e Z. Como lidar com suas diferenças intergeracionais? Eles se conectam com o mundo de forma diferente. Seus valores, propósitos, relacionamentos e prioridades são infinitamente diversificados e especializados.[4] Como tratar temas como a globalização do mercado, novas tecnologias de informação, alta competitividade, demanda por qualidade, crescentes exigências dos fiéis, estilos de culto, prioridades financeiras e mudanças na cultura organizacional?
Igrejas precisam ter consciência da tensão e desacordo que pode ser causado pelas diferentes mentalidades, valores e desejos que distanciam as diversas gerações. Para sobreviver e crescer, as igrejas precisam ouvir, compreender e receber em seus círculos de liderança e influência ministerial especialmente os novos líderes e expoentes das gerações X e Millenials. As igrejas pós-modernas precisam construir novos modelos de cultos intergeracionais (sensível as diversas gerações), educação bíblica intergeracional (não mais dividida por faixa etária), células e pequenos grupos intergeracionais (não apenas por afinidade, mas que engajem a família inteira: avôs, pais, filhos e netos), missão intergeracional (focada no alcance de todos os grupos sociais) e liderança intergeracional (com representantes influentes das gerações X, Millenials e Z).
2.3. A mentalidade de igreja pequena
O modelo em que a maioria das igrejas ainda se encaixa é aquele em que quase todas as expectativas de cuidado pastoral recaem sobre um profissional treinado para isso (e em alguns casos sobre líderes leigos treinados). Acima de todos, o pastor é a principal fonte de primeiros-socorros para as famílias da comunidade. A expectativa (e talvez até mesmo a obrigação) é que ele participe da maioria das reuniões dos ministérios, comissões, departamentos, grupos de oração, visitas aos enfermos e festas de aniversário. Seu ministério principal é atender as necessidades dos membros (que “pagam” o seu salário). Mesmo que não mais resida no fundo do templo, sem qualquer privacidade para sua família, sua disponibilidade e acessibilidade ainda devem continuar a ser totais.
O pastor de uma igreja pequena dedicado, despojado e preocupado com sua performance, tem dificuldade para descentralizar suas ações ministeriais, com os poucos líderes da sua comunidade. Sua habilidade para planejar, delegar e treinar novos líderes é limitada, preferindo fazer por si mesmo do que esperar que outros façam. Ele precisa jogar em todas as posições do time: defende como goleiro, corre para o meio de campo, avança para o ataque, cabeceia para o gol e volta rapidamente para a defesa. Com tendência (e necessidade?) ao ativismo, ele frequentemente se sente cansado, estressado e desanimado. Esta expectativa da função do pastor, comum nas pequenas e médias igrejas, impede o crescimento da igreja, diante da impossibilidade de um ser humano conseguir pastorear com eficiência mais de 100 pessoas.[5]
2.4. Os modelos de cultura governamental
O sistema de governo das igrejas é centralizado, sem compartilhamento de decisões e responsabilidades, funciona eficazmente somente em pequenas e médias comunidades e sobrecarrega a função pastoral. Em geral, 99% das decisões da igreja menor são tomadas por um grupo mais experiente de líderes leigos. Eles (as) representam algumas das famílias mais tradicionais e pessoas de influência e podem exercer o cargo de presbítero, obreiro ou diácono. Com o crescimento e o aumento da demanda de trabalho e decisões, este pequeno grupo não mais consegue gerenciar com agilidade os ministérios. Não é comum que compartilhem suas posições de liderança ou deixem seus cargos com a chegada de novos líderes promissores. Por vezes, decidem aumentar o número de membros do conselho ao invés de descentralizar suas ações. O problema continua e as reuniões administrativas se tornam mais cada vez mais complexas e conflituosas.
Além disso, o pastor (tempo integral ou parcial) precisa reconhecer e respeitar o domínio invisível que esse grupo dos principais acionistas e investidores majoritários exerce sobre a comunidade. Eles controlam os recursos—dinheiro, influência e permissão. Embora tenham contratado o pastor para liderá-los, na verdade não é isso que querem. Eles provavelmente chamaram o pastor para realizar as tarefas que não conseguem ou querem fazer. Mesmo que a igreja esteja crescendo, novos pastores levarão anos até que eles estejam dispostos a mudanças significativas no status quo. Novos pastores frequentemente optam por cuidar melhor dos mais novos, falhando em dar a liderança ou negligenciando os líderes mais velhos. Quem tem a maior capacidade para machucar o pastor? Os acionistas majoritários. Eles têm as chaves da cozinha, do templo e do orçamento financeiro. Como Andrew Cave disse, a cultura organizacional pode devorar a estratégia no café da manhã.[6] A resistência às mudanças, a sabotagem das estratégias e a centralização do poder de decisões é, de fato, responsável pela saída de inúmeros pastores, líderes e famílias.
Portanto, precisamos ter consciência dos fatores externos (a complexidade das cidades urbanizadas e a realidade dos ambientes eclesiais intergeracionais) bem como dos fatores internos (a mentalidade de igreja pequena e a cultura governamental) para que possamos experimentar a revitalização e renovação da igreja local.
3. Como ajudar a igreja local a ser revitalizada e desenvolver-se de forma saudável diante dos desafios externos e internos?
Eu quero propor com brevidade quatro elementos indispensáveis para a revitalização e desenvolvimento da igreja.
3.1. Espiritualidade
Em primeiro lugar, a comunidade precisa refletir sobre sua espiritualidade, em particular, revitalização e sua conexão direta com avivamento. Pastores e líderes devem examinar cuidadosamente a vida cristã da comunidade em seus cultos e ministérios por sinais de apatia, esterilidade e frieza espiritual. Vivemos uma vida piedosa e consagrada? Estamos submissos à Palavra e na dependência do Espírito? Servimos como discípulos de Cristo, obedecendo seus princípios no sermão do Monte, por exemplo? Temos prazer e alegria em fazer a vontade de Deus? Busquemos o Senhor e oremos por avivamento e revitalização. Avivamento é a cura de Deus para a nossa letargia moral e espiritual, para as deficiências espirituais, psíquicas, morais e sociais que não estariam presentes se o cristianismo real fosse praticado. Avivamento é o derramamento do poder de Deus que frequentemente leva a maior dedicação e compromisso com Deus, a leitura de sua palavra e a oração. Lembremos de sua promessa: “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de santo. Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos.” (Is. 57.15).
3.2. Missão
Em segundo lugar, a missão precisa ser revisitada. A missão da igreja local deveria responder à seguinte questão: por que nós existimos? No atual contexto sociocultural, é fundamental que a missão aponte para uma igreja robusta teológica e espiritualmente, que busque ser um referencial no pensamento bíblico e missiológico, bem como na formação e treinamento de líderes. A missão, portanto, precisa estar fundamentada numa sólida base bíblica e sobre um conjunto de valores teológicos. Quando bem articulada, a missão afirma claramente: “Quando pensamos em nossa igreja, isto é o que nos representa, é o que realmente somos acima de tudo, esta é nossa identidade, estes são os principais temas e passagens bíblicas”. Ele poderá incluir uma declaração da fé, crenças e doutrinas. Esta declaração fundamenta a filosofia de ministério e prática de vida para uma igreja local.
Missão deve ter caráter sistêmico e integralizador, compreendendo a totalidade de todas as experiências do ser humano, em seu contexto e história. Sua finalidade envolve a reconciliação de todos os eleitos e a restauração de toda a criação. Ele espera ver nosso esforço em melhorar este mundo imperfeito, agredido e ferido pelo pecado. Quando servimos ao mundo, procuramos transformar as suas situações imperfeitas, ministrando às suas feridas sociais e restaurando as suas dores culturais. Assim, promovemos a reconciliação, o amor divino e a paz social – desde o indivíduo e suas necessidades pessoais, até a família e as cidades a nível sociocultural em direção a toda criação – e exercemos o dom de Deus, num verdadeiro processo de transformação da realidade dominante. Um bom plano de ação é baseado no desenvolvimento de uma clara compreensão da missão, do propósito da Igreja. Missão é para uma organização o que o leme é para o navio: uma força estabilizadora que resiste ao desvio da direção pretendida.
3.3. Visão
Em terceiro lugar, um projeto de revitalização e desenvolvimento da igreja levará ao engajamento com uma nova visão: Aonde queremos chegar? A visão de ontem não mais funcionará hoje diante das rápidas mudanças da sociedade globalizada. Revise anualmente sua visão. O futuro almejado é uma figura, quadro ou fotografia de como gostaríamos que a igreja estivesse daqui a alguns anos, contando que Deus dirija e abençoe este projeto. Os líderes da igreja devem se dispor a investir suas vidas nos próximos anos neste sonho. Não podemos fazer todas as coisas. Precisamos focalizar a visão que esteja fundamentada nos valores e missão da igreja local. Visão afirma: “vamos fazer bem apenas algumas coisas”. As perguntas chaves são: com que se parece nossa visão do futuro? Qual será a cara da comunidade daqui a 5-10 anos com a plantação e crescimento de uma igreja saudável na área? Com o que desejamos que o nosso ministério se assemelhe se Deus abençoar e o dinheiro não for um empecilho? Se um jornal local fosse fazer uma matéria descrevendo a igreja, o que gostaríamos que ele dissesse a respeito?
Pensando numa visão compreensível que responda aos desafios externos e internos, a igreja local precisa ser contemporânea, missional, intergeracional e acolhedora. Contemporânea, não apenas honrando a história cristã e a tradição denominacional, mas olhando com esperança, inovação e criatividade para as formas e maneiras de ser igreja relevante no século 21. Missional, pois está consciente das mudanças socioculturais bem como reconhece que para impactar a cidade ela precisa ser uma comunidade urbana. Intergeracional, para ser uma família para as gerações, servindo igualmente as necessidades e prioridades de todas as idades, respeitando e valorizando suas diferenças. E acolhedora, pois é receptiva aos participantes e aos visitantes, bem como sensível às suas dificuldades para compreender e assimilar os costumes, tradições e linguagem cristã.
3.4. Estratégias
As estratégicas são metas bem planejadas e organizadas em torno de resultados realistas, mensuráveis e específicos, resultantes da espiritualidade bíblica, da missão teológica e da visão ministerial saudável. Em outras palavras “como nós iremos saber se estamos chegando lá?” Líderes devem pensar especificamente em estratégias que respondam aos desafios externos e internos: com relação ao mundo digital (mídias sociais e realidade virtual); às questões urbanas (justiça social e igreja como espaço comunitário); aos temas missionais (plantação de igrejas e missões urbanas); aos ministérios intergeracionais (eventos, cultos e grupos); e assim por diante. O desafio só será alcançado com objetivos adaptáveis ao contexto, através de um sábio planejamento baseado na compreensão das necessidades dos não-alcançados, do “know-how” da igreja local (ou seja, a partir dos dons, talentos e habilidades de seus membros) e, diferentemente de uma empresa ou organização, na dependência absoluta do Espírito Santo. Acima de tudo, estratégias são documentos repletos de fé. A falta de estratégias limitará com certeza o desenvolvimento da comunidade.
Conclusão
Como a igreja local poderá fazer isso na prática? Orem e adorem juntos, busquem ao Senhor, confessem suas limitações e apatia espiritual. Reúnam o maior número de líderes representantes de todos os grupos sociais da igreja. Peçam a Deus que lhes deem a missão, a visão e as estratégias. Escrevam à medida que Deus lhes falar. O que não pode ser escrito com clareza ainda não existe ou não está suficientemente pronto. Algumas perguntas podem ajudar a liberar a visão com mais clareza: Enquanto pensam sobre o futuro da igreja nos próximos 5-10 anos, quais seriam alguns ministérios chaves que acreditam que Deus gostaria que mantivessem? Quais são as coisas mais importantes, as quais creem que Deus gostaria que realizassem? Que projetos e ministérios entendem que Deus não gostaria que a igreja se envolvesse no futuro? O que com certeza devem evitar? Finalmente promovam ocasiões para que a missão, visão e estratégias se desenvolvam e amadureçam. Isso não acontece em duas ou três semanas. É como escrever um livro. Levará meses.
Bibliografia
SCHALLER, Lyle, Small Congregation, Big Potential : Ministry in the Small Membership Church. New York: Abinbdon Press, 2004.
[1] Podemos usar a média conservadora de 185 pessoas por igreja até que haja uma nova avaliação nacional do tamanho médio das igrejas e sua frequência dominical. As pesquisas realizadas pela Sepal em 2002, tanto em grandes cidades, como cidades do interior e vilarejos já indicavam que os 6,5% da população brasileira que se dizia evangélica e frequentava os cultos num típico domingo, correspondia a 70 pessoas por igreja. Existem obviamente igrejas com frequência muito maior, mas também existem igrejas com frequência muito menor que essa. Logo, 70 pessoas seria a média estimada de pessoas presentes num culto aos domingos. Naquele mesmo ano, a porcentagem de evangélicos no Brasil era 17,22%. Os pesquisadores da Sepal perguntaram então: se 70 pessoas correspondem a 6,5% de evangélicos que frequentam os cultos aos domingos, 17,22% da população evangélica representa quantas igrejas? Dividindo 17,22 por 6,5 e multiplicando por 70. O resultado foi o número de 185,44. É importante lembrar que à medida que o número de evangélicos cresce, a razão membros/frequência tende a cair. Além disso, o número de nominais que não frequentam igrejas tem aumentado significativamente diminuindo mais ainda o tamanho médio. Lourenço Kraft esteve à frente dessa pesquisa na época. Além desse autor, trabalharam por vários anos no departamento da Sepal Eunice Zilner, Oswaldo Prado e Luis André Bruneto.
[2] Veja Charles Edward van Engen, Transforming Mission Theology, 2017. Compare com Raymond J. Bakke, The Urban Christian : Effective Ministry in Today’s Urban World (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1987) e Roger S. Greenway e Timothy M. Monsma, Cities : Missions’ New Frontier (Grand Rapids, Mich.: Baker Books, 2000).
[3] Veja José Paulo Pietrafesa, “A Interface Do Rural Com o Urbano Na Região Centro Oeste Do Brasil.,” Revista Educação & Mudança, no. 15 (2013): 129–43; Manuel Castells, A Questão Urbana (Paz e terra, 1983); e Milton Santos, A urbanização brasileira, vol. 6 (Edusp, 2005).
[4] Veja Elisabeth A Nesbit Sbanotto, Effective generational ministry: Biblical and practical insights for transforming church communities (Baker Academic, 2016); and Holly Catterton Allen e Christine Lawton, Intergenerational Christian formation: Bringing the whole church together in ministry, community and worship (Intervarsity Press, 2012).
[5] Veja Robert R Douglas, “A Comparison of Resistance and Openness to Change in Church Leadership and Church Growth through the 200 Barrier”, 2019.
[6] Andrew Cave, “Culture eats strategy for breakfast. So what’s for lunch”, Forbes, available at: www. forbes. com/sites/andrewcave/2017/11/09/culture-eats-strategy-for-breakfastso-whats-for-lunch, 2017.
Sobre o autor
Rubens Muzio é doutor em teologia pastoral, coordenador de REDE – Instituto de Revitalização e Desenvolvimento de Igrejas, professor da FTSA e missionário da Sepal. Contato com o autor: rubens@ftsa.edu.br.