O REINO DE DEUS E O COMPROMISSO COM A VIDA: FUNDAMENTOS PARA UMA TEOLOGIA DA MISSÃO | Por Flávio Henrique de Oliveira Silva

O estudo dos textos e contextos neotestamentários mostra que na trajetória do reino de Deus, em sua tarefa legitimadora da vida, estava um outro reino, de uma outra ordem, e que, ao contrário, conspirava contra a vida quando ela se colocava como obstáculo para seu estabelecimento-funcionamento. Mentalidade reproduzida em vários níveis de relação nas sociedades do primeiro século, tanto na Palestina como nos demais territórios conquistados pelos romanos. Nesse cenário, é impossível (1) não considerar os conflitos de valores entre o governo imperial romano e o governo de Deus; e (2) não considerar que a mensagem do reino de Deus se manifestava como antítese ao modelo imperial romano. Naquele contexto de conflito, um dos aspectos da missão em Jesus, e que justifica seu caráter de integralidade, a partir da natureza do reino, era, portanto, assumir a forma de vida do governo de Deus, que é pela vida. Além disso, implicava em denunciar os valores imperiais, anti-vida, e não deixar se formatar por eles. E, por fim, convidar outros à mesma jornada. O que se pretende neste texto é, de forma introdutória, perceber alguns pontos desse conflito e tentar notar neles um caminho de continuidade para noção-ação do povo de Deus que caminha em missão.

  1. Uma breve definição

A expressão “reino de Deus” é muito comum entre os escritos neotestamentários. Todavia, estes mesmos escritos não apresentam nenhuma definição precisa sobre o seu significado. Alguns indícios aparecem na carta do apóstolo Paulo aos Romanos (14.7) onde refere-se ao reino como não sendo “comida nem bebida”, mas sim, “justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”. Ou ainda na primeira carta do apóstolo aos Coríntios (4.20), afirmando que “o reino de Deus consiste não em palavra, mas em poder”. Mas normalmente as pistas que levariam a uma conclusão mais objetiva se perdem diante de um mar de possibilidades conceituais. Por exemplo, nos evangelhos, Jesus ensina a respeito da natureza do reino através de parábolas: “O reino dos céus/de Deus é semelhante…”. O complemento da frase não é uma definição concreta, mas sim a aplicação metafórica de algum ensinamento mais profundo que necessita de investigação e interpretação mais apurada, o que demonstra a rica e inconclusa dimensão do tema.

O escopo deste artigo não permite avaliar cada texto/contexto onde a expressão aparece para então avançar em uma compreensão mais abrangente sobre o tema.  Entretanto, é imprescindível recorrer a outros recursos que ajudem, inicialmente, a fundamentar o que se pretende aqui. As línguas antigas, que faziam parte do universo neotestamentário, por exemplo, podem ser um bom início. Na língua grega, a palavra normalmente usada ao se referir ao reino de Deus é basileia ou basileia tou theou e aponta para a ideia de domínio, governo ou exercício de poder real. Já no aramaico a expressão usada é malkuta’ di ’elaha’ e se refere a soberania de uma divindade. À luz destes significados, e de forma já aplicada, alguns teólogos, entre tantos que poderiam ser citados, sugerem as seguintes definições: (1) “O reino de Deus significa o domínio ou a soberania de Deus” (Ladd, 2003, p. 90); (2) “No lugar de reino de Deus, tem-se usado a tradução domínio de Deus. Isso parece ter mais dinamicidade: Deus é o Senhor porque ele domina, e tudo o que ele domina constitui o seu reino” (Moltmann, 1996, p. 12). (3) “Com o conceito reino de Deus procura-se expressar uma forma de governo ou reinado de Iahweh sobre determinada grandeza social, área geográfica ou o cosmo como um todo” (Reimer, 2008, p. 847).

Percebe-se entre os significados das línguas antigas, e no uso feito pelos teólogos citados que a ideia de governo/domínio é recorrente e deve, portanto, situar a reflexão aqui proposta. Vale lembrar que o uso destes termos nos textos bíblicos, já em textos veterotestamentários (“Iahweh reina” – “trono de Iahweh”, etc.), podem ser justificados pelos contextos em que aparecem, cujo sistema de governo era predominantemente imperialista. Se o emprego da expressão dada pelos autores bíblicos sofreu influência do mundo em que estavam inseridos, é razoável considerar a tese a respeito de um reino/governo/domínio de Deus com base na observação do modelo estatal vigente. A novidade nesse caso, claro, é a contraposição a este modelo quanto aos seus fundamentos, estruturas, formas de atuação e valores. Joachim Jeremias (2008, p. 162) defende esta possibilidade e assim define o reinado de Deus: “significa a soberania real de Deus em ação, primeiramente como oposta a toda soberania real humana…”.

  1. O domínio romano e o governo de Deus

Pois bem, a hipótese de que o governo de Deus, entre outras características, se configurava como antítese aos modelos imperiais (anti-vida) da época requer algumas observações. A primeira delas pede pela lembrança de que o imperialismo romano foi um movimento de longa duração. Trata-se de quase um milênio de exploração, autoritarismo bélico e de domínio sobre outros povos. Caracterizado por sua crueldade, braço forte, grandes conquistas e superioridade tecnológica, é reconhecido como um dos maiores Impérios de todos os tempos. Obtinha suas conquistas e estabelecia suas formas de governo através do poder e da violência. A violação, nesse caso, não era apenas um exercício de força física. Quando se avalia as circunstâncias pelas lentes da justiça e da igualdade entre semelhantes, facilmente percebe-se outras formas de abuso. Tais abusos eram vistos em relacionamentos humanos comprometedores, desde questões econômicas, sociais, políticas, ideológicas e até mesmo religiosas. Movidos por táticas expansionistas, os romanos iniciaram um movimento de extorsão desumano contra os povos subjugados, especialmente nas baixas camadas. O argumento utilizado no discurso imperial foi o que privilegiava progresso, urbanização e capacidade comercial. Motivos aparentemente inofensivos e até positivos. Entretanto, a história precisa ser analisada também pela ótica dos vencidos, daqueles que viabilizaram as idealizações dos romanos.

Era a partir das imposições imperiais que a vida dos povos subjugados deveria ser organizada. Ivoni Reimer (2006, p. 74) resume as estratégias-ações dos romanos da seguinte forma: (1) “exploração de recursos naturais e humanos”; (2) “violência física, sexual e psicológica contra todas as pessoas”; (3) “expansão e construção na base do trabalho escravo e da imposição de impostos e tributos”. É, sem dúvida, um modelo exato daquilo que significa o poder imperial em todas as variáveis que identificam um Império e suas ações imperialistas. A consolidação de toda essa estrutura resultava na violação de direitos mínimos de subsistência, especialmente para os menos favorecidos.

Foi nesse ambiente que Jesus nasceu, cresceu e começou a proclamar e promover os valores de um reino em oposição a esse estado de coisas. Sua visão crítica quanto ao sistema estabelecido, aliada à convicção que possuía a respeito do caráter do reino de Deus – fundamento de sua missão – fizeram de Jesus um homem envolvido com as questões de seu tempo. Ele presenciou o drama de seus contemporâneos e a iniquidade a que estavam expostos. Sua mensagem estava fundamentada na justiça, como a entendia, e sua prática no amor enquanto movimento solidário. Portanto, como afirma Robinson Cavalcanti (2002, p. 52), trata-se de “uma mensagem para vida, e não para a morte. Uma mensagem que não é fuga da História, mas vivência na História”.

Em reação a essa realidade conflituosa o referencial de Jesus, fruto da tradição judaica que certamente era-lhe familiar, pode ter sido o código da aliança mosaica. Lá, segundo propõe Richard Horsley (2004, p. 131), “ele encontrou um repositório profundo de ensinamentos destinados a manter as famílias econômica e socialmente viáveis como membros constitutivos das comunidades camponesas pela manutenção de relações socioeconômicas igualitárias”. O cerne da questão, para o autor, está nos princípios da justiça e do direito, fundamentais no código da aliança, mas ausentes nas relações provocadas pela política estatal romana. Um exemplo, entre tantos, das consequências desse quadro era a não observação da partilha e da cooperação para igualdade (em todas as suas possibilidades): ambas protagonistas no conteúdo da aliança, mas que estavam esquecidas graças à influência do modelo de relações estabelecido.

As percepções acima lembram que o governo de Deus aponta para uma ordem oposta, contrapondo os paradigmas determinados por Roma. A mensagem do reino de Deus assumiu um papel orientador para todas as relações humanas, segundo a vontade de Deus e não segundo a vontade do Império. Afirmar a chegada do governo de Deus significava uma ameaça para o governo romano. Para José Pagola (2010, p. 411). “construir um Império diferente, sobre a base da vontade de Deus, encerrava uma crítica radical a Tibério, o César que ditava sua própria vontade”. Tal situação desencadeou um conflito de valores entre ambos: domínio romano e governo de Deus. É o que Giorgio Agamben (2014, p. 34) classifica como confronto de dois reinos (divino e humano), ou de “dois mundos inconciliáveis”.

Que que tipo de ameaça representava o reino de Deus para a grande potência da época? Para Bruce Malina (2004, p. 99), “proclamar o reino de Deus como o iminente governo de Deus é claramente uma declaração política”. O autor explica que as características desse reino de Deus, a oração que clama pela vinda do reino e outros detalhes “representam linguagem política para uma pessoa do primeiro século”. Pagola (2010, p. 411), por sua vez, entende que a mensagem-postura de Jesus “era um desafio público àquele programa sociopolítico estimulado por Antipas, favorecendo os interesses dos mais poderosos e mergulhando na indigência os mais fracos”.

A leitura destes autores é precisa, mas é bom esclarecer que a observação dos princípios da aliança, agora implícitos à mensagem do reino de Deus, só poderiam tomar forma a partir das margens do sistema – sem discursos utópicos de mudanças em suas estruturas. Isto é, de forma não oficial e como um movimento alternativo não violento e de resistência. Portanto, a mensagem do reino não era incitação para tomada do trono, mas uma forte denúncia ao poder estabelecido através de uma postura de resiliência em defesa da vida, como contraponto ao modelo vigente que a sacrificava em nome de seus ideais.

Bruce Malina (2004, p. 99) cita alguns eventos pontuais na argumentação que desenvolve a respeito dessa perspectiva. Ele menciona o fato de Jesus “ter ensinado em público, na arena política”. Além disso, ele foi a Jerusalém “para proclamar sua mensagem profética no próprio centro da religião política, o templo”. Com efeito, lembra o autor, “os poderes políticos desse centro – sacerdotes, concílio e o prefeito – queriam-no morto sob o pretexto político de sua suposta alegação de ser o rei dos judeus”. Alguns estudiosos entendem que a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém (Mt 21.1-11) foi também uma atitude anti-imperial. O gesto de Jesus era certamente intencional. Conforme Pagola (2010, p. 426) “sua entrada em Jerusalém montando num jumento dizia mais do que muitas palavras. Jesus busca um reino de paz e justiça para todos, não um Império construído com violência e opressão”. Ao mencionar a figura do jumentinho, além de rei, Jesus se coloca na posição de profeta. “Montando em seu jumentinho, aparece diante daqueles peregrinos como profeta, portador de uma ordem nova e diferente, oposta à ordem imposta pelos generais romanos, montados em seus cavalos de guerra”.

A mensagem do reino de Deus estava igualmente em rota de colisão com o modelo de governo imperial baseado na pax romana. “Muito mais do que as palavras, eram as ações de Jesus que incomodavam o projeto da disseminação da pax Romana” (Crossan, 2008, p.15). Esse ideal de “paz” estava, na verdade, comprometido com o desenvolvimento da degradação da vida humana e de seus meios de sobrevivência. Ou seja, o discurso da pax romana apresentava algumas ideias teoricamente bem-intencionadas. Na prática, todavia, eram incompatíveis com a vontade de Deus.

É o César de Roma quem, com suas legiões, estabelece a pax romana e impõe sua justiça ao mundo inteiro. Ele proporciona bem-estar e segurança aos povos, exigindo, em troca de sua proteção, uma implacável tributação. O que pretende agora Jesus ao convidar as pessoas a entrar no Império de Deus, que, diferente de Tibério, não busca poder riqueza e honra, mas justiça e compaixão precisamente para os mais excluídos e humilhados do Império romano? (Pagola, 2010, p. 411).

A paz do reino de Deus era, naturalmente, um movimento de contraposição em relação à pax romana. Motivo suficiente para o surgimento de um ambiente de conflito. Vejamos essa distinção em pelo menos quatro dimensões, conforme apontou Israel Serique (2011, p. 119-134).

(1) “Era uma paz que era oferecida generosamente aos estrangeiros, contrapondo-se à pax romana que efetivamente beneficiava, predominantemente, os cidadãos romanos”.

(2) “As pessoas dos estratos mais baixos da sociedade poderiam usufruir desta paz. Ela não estava agrilhoada às relações de poder de mando, de posses financeiras ou então de status social”.

(3) “Era uma paz que quebrava as relações díspares de gênero; o sistema pater famílias, no qual o Império romano tinha seu sustentáculo, na macroestrutura política e no microuniverso do lar roma­no, fazia clara distinção entre os gêneros”.

(4) “Era uma paz que denunciava a falsa paz do mundo”. Jesus afirmou: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo…” (cf. Jo 14.27). Nestas palavras, “há o ensino claro de que o mundo romano oferecia uma paz comprometida não com as pessoas, mas sim com a estrutura imperial. ‘Não como a dá o mundo’ quer dizer, portanto, sem as suas assimetrias, explorações, mortes, diferenças e injustiças”.

A atitude de Jesus era anti-imperialista, também, na medida em que defendia as vítimas do sistema. José Pagola (2010, p. 416) explica que era arriscado buscar uma vida digna e justa para os desfavorecidos. Portanto, “Jesus não podia promover o reino de Deus como um projeto de justiça e compaixão para os excluídos e rejeitados sem provocar a perseguição daqueles a quem não interessava mudança nenhuma nem no Império nem no Templo”.  O autor afirma ainda que “era impossível solidarizar-se com os últimos, como ele o fazia, sem sofrer a reação dos poderosos”. Foi exatamente o que aconteceu. A proclamação e promoção do reino de Deus não sucediam sem que houvessem coerções por parte dos mandatários imperiais.

Por fim, claro, o ápice do conflito entre o reino de Deus e o Império foi a morte de Jesus na Cruz. Em reação ao ambiente violento (em todas as suas dimensões) que presenciava, através de gestos solidários em favor dos violentados do sistema, Jesus questionou as violentas estruturas de poder do Império romano. Dessa forma, seu destino-castigo foi a execução na cruz. Moltmann (2011, p.176-178) explica que “a crucificação era, na lei romana, uma punição para escravos e fugitivos”. Mas também para os “revoltosos contra o Imperium Romanum. […] A crucificação era uma pena para delitos contra o Estado e não fazia parte do código penal comum. Assim, pode-se dizer que a crucificação, naquele tempo era uma pena política para revoltas contra a ordem social e política”. Com esses argumentos, o autor defende que:

Jesus foi crucificado pelos romanos não apenas por razões táticas e da política cotidiana da ordem e da paz de Jerusalém, mas, no fundo, em nome dos deuses estatais de Roma que asseguravam a pax romana. […] Jesus foi julgado por Pilatos como um rebelde político. […] Portanto, ele foi desde o princípio um prisioneiro dos romanos, que temiam uma revolta por meio da atuação de Jesus em Jerusalém.

A morte de Jesus não é a vitória do Império sobre o reino de Deus. Antes, a morte de Jesus, segundo Pagola (2010, p. 419-420), “selará para sempre sua mensagem de um Deus defensor de todos os pobres, oprimidos e perseguidos pelos poderosos”. Jesus viu em sua própria crucificação “uma consequência lógica de sua entrega incondicional ao projeto de Deus. […] Jesus entende sua morte como sempre entendeu sua vida: um serviço ao reino de Deus em favor de todos”.  Ken Butigan (2011, p. 70), por sua vez, entende que “a resposta divina a essa violência e injustiça foi a ressurreição”. Para ele “a reação de Deus à violência injusta empregada contra Jesus não é nem raiva tampouco vingança, mas nova vida que proclama a limitada jurisdição da violência e da injustiça”.

Considerações finais

A dificuldade na assimilação e, principalmente, na reação frente aos desafios de continuidade do projeto do reino de Deus acontecem por uma série de fatores. Dentre eles, fatores teológicos desassociados de uma leitura bíblica consistente quando o assunto é o reino de Deus e a missão de seu povo. Algumas correntes teológicas insistem na dicotomia espiritualidade versus política-economia-sociedade-cultura. Ou na dicotomia entre ritual-cúltico versus vida. Para esse tipo de abordagem, a mensagem do reino de Deus se constitui a partir de questões religiosas isoladas segundo a noção de religião na atualidade, conforme observou-se ao longo do texto. Com o Iluminismo, no século XVIII, por exemplo, conforme explica Michael Goheen (2014, p. 27-31), “a fé cristã começou a se mover do centro da vida pública para as margens da vida privada. […] O papel da igreja na cultura ocidental foi encolhendo paulatinamente até atuar meramente como capelão cultural, cuidando das necessidades religiosas de pessoas e oferecendo instruções particulares sobre questões morais”. Foi um período marcado por dicotomias. Entre elas, a separação entre público e privado. A Igreja então deixou de ter voz nos espaços públicos tratando apenas de assuntos privados e dando grande valor à “experiência religiosa individual”. O autor resume as influências do iluminismo para a caminhada da igreja, segundo ele já no pós-iluminismo, à luz das seguintes ênfases:

(1) Relacionamento individual e pessoal com Deus, que resulta de uma resposta voluntária ao evangelho;

(2) A igreja, por sua vez, passou a ser vista como uma assembléia de pessoas que tiveram essa experiência religiosa e consequentemente se reuniram para formar uma sociedade voluntária de indivíduos da mesma opinião;

(3) A igreja já não era considerada uma sociedade pública que encarna a ordem social de Deus;

(4) A igreja aceitou seu papel na esfera privada como uma sociedade voluntária na qual pode oferecer uma salvação além-mundo e totalmente futura a membros individuais;

(5) A fé cristã se concentrou exclusivamente em assuntos espirituais interiores.

Os desafios postos só podem ser superados (ou pelo menos repensados) a partir de uma leitura coerente sobre a agenda do reino de Deus, e do quanto esta agenda é fundamento para a identidade missional, integral, do povo de Deus. Como bem disse Jon Sobrino (2006, p. 246) “a maior realização possível do reino de Deus na história (o mesmo que Jesus veio anunciar e realizar) é a continuidade que devem dar os verdadeiros seguidores de Jesus”. Ou seja, aqueles que estão em Cristo tomam partido em favor daqueles a quem Jesus priorizou e das causas que assumiu, na proclamação e promoção de um ambiente de esperança. Não de uma esperança exclusivamente escatológica, alienada em relação às contradições da realidade presente. Interpretar a mensagem do reino de Deus, dessa forma, é desinteressar-se pela vida e compactuar com as coisas como elas são/estão. É conformar-se com esse século de maldade e correr o risco de assumir uma espiritualidade descomprometida com a sociedade e suas disfunções. Na contramão desta tendência, conforme Ken Butigan (2011, p. 70), o “Espírito de Cristo é entregue aos discípulos”, e cada discípulo, então, sinaliza o reino encarnando em sua identidade missional a resposta divina contra qualquer movimento de constrangimento à vida.

 

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Sobre o autor

Flávio Henrique de Oliveira Silva é Mestre e doutorando em Teologia pela PUC-PR. Professor na Faculdade Teológica Sul Americana na área de Bíblia.

Contato com o autor: flavio@ftsa.edu.br