Editorial | REFUGIADOS: MISSIOLOGIA DA DIÁSPORA PARA A ATUALIDADE

Pessoas estão migrando como nunca, voluntariamente em busca de oportunidades econômicas ou educacionais ou involuntariamente devido à fome, desastres naturais, guerras, conflitos étnicos ou perseguição religiosa.

Nos últimos anos, a crise humanitária de refugiados alcançou um nível épico. De acordo com a ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), 1 em cada 113 pessoas no mundo hoje está em busca de asilo, deslocada internamente ou é uma refugiada.

Estamos convictos de que a igreja não pode se calar ou cruzar os braços recusando-se a agir, diante de uma crise humanitária deste tamanho. Mas antes de falar, antes de agir, a igreja precisa de duas coisas.

Em primeiro lugar, a igreja precisa de informações sobre vários aspectos da crise.

Para sermos eficazes em nosso testemunho, temos que entender o mundo em que vivemos. O mundo hoje parece estar “sem fronteiras”, interconectado pela tecnologia e atravessado por milhões de migrantes e viajantes. Em um mundo marcado pelo multiculturalismo e pluralismo, é importante que os servos do Reino de Deus sejam capazes de entender a realidade das pessoas da diáspora e de desenvolver capacidades relacionais que construam pontes e relacionamentos autênticos com essas pessoas.

Em segundo lugar, a igreja precisa refletir teologicamente sobre a situação que se encontra diante dela.

O que a Bíblia fala a respeito de pessoas em movimento e como Deus age em, e através, dessas situações para realizar seus propósitos? Como a Bíblia pode informar e moldar os nossos conceitos, atitudes e ações?

Neste número 3 da Práxis Missional, intitulado: “Refugiados: missiologia da diáspora para a atualidade”, buscamos fazer uma contribuição ao conhecimento e à reflexão teológica da igreja brasileira a respeito da diáspora, um dos desafios missiológicos mais gritantes do nosso tempo. Isto se dará através de cinco contribuições.

No primeiro artigo, Don Finley extrai lições da igreja em Jerusalém cujo ministério foi realizado no contexto de diáspora desde o dia de Pentecostes. Na sequência, Jairo de Oliveira, com sua vasta experiência, descreve a crise atual de refugiados e chama nossa atenção para as vidas que essas estatísticas representam. José Prado oferece uma contribuição olhando o quadro de refugiados no Brasil e o papel da igreja brasileira diante dessa situação. Maurício Medina e Mayara Araújo trazem uma reflexão baseada na experiência missional como professores de português e propõem um modelo de intervenção pedagógica para o ensino de português como língua de acolhimento que ajuda o refugiado a reencontrar sua identidade. O último artigo, escrito por John Baxter, promotor da Global Diáspora Network do Movimento Lausanne e fundador e da NextMove destaca a necessidade de novos conceitos e novas estruturas na parte de agências enviadoras para realizar a missão entre e através de diásporas.

“Tudo isso é interessante, mas será que é importante?”. Essa foi a pergunta colocada pelo fundador e diretor executivo da FTSA, Antônio Carlos Barro, antes de nossa ida a Coréia do Sul em novembro de 2018. Meu marido e eu tivemos o privilégio de participar de um simpósio internacional sobre Diáspora e Missões. Lembro-me de sentar na sala do Antonio e conversar sobre as expectativas da viagem. Falamos sobre a apresentação que Don faria, sobre os contatos com pessoas chave de várias organizações e sobre contatos com outras escolas de teologia e possíveis parcerias. Mas a pergunta que não se calava era justamente a supracitada. Até que essas manchetes e informações se tornem mais que um fenômeno interessante, até que se tornem importantes – isto é, sejam consideradas seriamente na pauta de orações, planejamento e ação da igreja – não vamos investir nossos recursos em alcançar a diáspora.

Acima, observamos que para agir, a igreja precisa de duas coisas: conhecimento da situação atual e reflexão teológica sobre esta situação. Mas existe um terceiro elemento necessário. Precisamos levantar os nossos olhos e ver os campos, consistindo de pessoas, com a compaixão e o amor de Deus. Oramos para que este número nos ajude a ver, e que a resposta do povo de Deus seja a de amar, que é o sinônimo divino para ação.

Sobre o autora

 

Angelyn Coston Finley é Mestra em Missão Mundial e Evangelismo pelo Asbury Theological Seminary, Wilmore, KY. É professora na FTSA e missionária há mais de 30 anos na Ásia Central e no Brasil.

Contato com a autora: angelina@ftsa.edu.br