06 nov Edição 10 | e-2405 | Discipulado missional para a práxis pastoral urbana na perspectiva de Lucas | Por José Iltemar da Silva
1. Introdução
A partir da narrativa de Lucas coloca-se em evidência o discipulado como a estratégia missional utilizada por Jesus Cristo para fazer as pessoas chamadas por ele se tornarem capazes de reproduzir a vida dele em outras vidas. Há, por parte de Lucas, um cuidado em descrever todo esse processo de aprendizagem ao qual são submetidos aqueles que atenderam ao chamado de Cristo e se dispuseram a segui-lo de forma comprometida, com um coração humilde, a fim de aprender, na teoria e na prática, o estilo de vida transformador que Jesus desejava transmitir.
Pensando no modelo missional de Jesus, nos desafios que envolve o discipulado e na aplicação desse método na atualidade, cumpre considerar alguns aspectos básicos. Primeiramente, será feita uma análise a partir da narrativa do evangelho segundo Lucas, objetivando identificar o modelo missional de Jesus, na qual serão abordados três aspectos desse processo pedagógico de Jesus: o chamado de Jesus ao discipulado, o conteúdo e o custo do discipulado.
Bonhoeffer (2016, p. 69, 70) diz que:
No chamado de Jesus, já está o rompimento do ser humano com as condições em que se acostumou a viver. (…) Ninguém pode seguir a Cristo sem que reconheça e aceite esse rompimento. É uma ruptura que se realiza no chamado; não é a vontade de uma vida impulsiva que conduz a esse rompimento, mas apenas Cristo.
Em seguida, será apresentado o contexto urbano como sendo a realidade primária dos primeiros cristãos a partir da narrativa de Lucas no livro de Atos, trazendo uma reflexão sobre a contribuição do discipulado missional na consolidação da fé cristã na vida do indivíduo, sua influência positiva no convívio social e sua ação transformadora nas cidades do seu tempo.
A partir de um estudo razoável do processo de discipulado desenvolvido por Jesus e reproduzido pelos primeiros cristãos, será abordada a relevância e a contribuição do discipulado missional para a práxis pastoral urbana na transformação da cidade na conjuntura atual, pois uma característica do discipulado missional é a transformação social.
1. O discipulado missional de Jesus em Lucas
A palavra missional é relativamente recente e surge para enfatizar a identidade da igreja como instrumento da missão transformadora de Deus no contexto em que ela está inserida. Em contraste, a palavra missionária refere-se à ação de levar o evangelho a outros povos, em uma perspectiva transcultural.
De acordo com Ed Stetzer (2006, p. 4), “missional significa realmente fazer missão onde você está […], missional significa adotar a postura de um missionário, aprendendo e adaptando-se a cultura ao seu redor, e permanecendo bíblico”, compreendendo a sua identidade e, consequentemente, o seu papel no ambiente cultural em que foi inserido.
Uma igreja missional está comprometida com a Missio Dei, apresentando-se como uma testemunha de Jesus, tanto em palavras quanto em obras. Isso se evidencia pela vida de Jesus refletida em suas ações, o que inclui seu envolvimento e sua identificação com a comunidade local.
A ênfase de Lucas quanto ao discipulado remonta aos primeiros versículos da sua narrativa e revela inclusive a sua principal motivação: “a mim pareceu bem, depois de cuidadosa investigação de tudo desde a sua origem, dar-lhe por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem, para que você tenha plena certeza das verdades em que foi instruído” (Lc 1:3-4). Ele quer assegurar que os atos e ensinamentos de Jesus sejam compreendidos corretamente, possibilitando que ele siga a Jesus confiando plenamente nas “verdades em que foi instruído”.
1.1. O chamado ao discipulado
Compreender o caráter e os aspectos que envolvem a vocação missional é importante para o discípulo poder desempenhar adequadamente sua vocação, atendendo às expectativas e aos objetivos da missão. Outro fator determinante para o sucesso de uma missão é a identificação do agente com as ações que precisam ser realizadas.
Jesus tem uma compreensão clara de sua identidade e sua missão. Ele tem definida com precisão a razão de sua vocação. Jesus também reconhece a importância da transparência em suas intenções e em tornar pública sua identidade e missão para o mundo:
O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor. (Lc 4.18-19)
Com base na plena consciência de sua identidade como o Messias prometido e na compreensão de sua missão de proclamar as boas novas de salvação, Jesus implementa uma estratégia missional. Seu chamado para o discipulado é impulsionado por uma clara intencionalidade: preparar aqueles que ele chama para se tornarem agentes ativos na missão de Deus.
O discipulado de Jesus provoca uma transformação na vida daqueles que atendem ao seu chamado porque é discipulado missional. George e Carriker (2018, p. 60) expressam isso, de forma entusiasta: “Esse homem mudava a trajetória de vidas sem perspectivas. E tudo com suas ações de extrema simplicidade. Sem ostentação. Sem arrogância. Com compaixão e sensibilidade”.
Em outras palavras, pode-se afirmar que os discípulos de Jesus, ao atenderem ao seu chamado para segui-lo, foram sendo moldados à sua imagem para se tornarem exatamente aquilo para o qual Jesus os chamou a ser.
Segundo Barth (2006, p. 46), o discípulo de Jesus precisa aceitar essa responsabilidade pública, a fim de que as pessoas ao seu redor possam sentir o impacto da sua existência, evidenciando quem ele é por meio do que faz e do que deixa de fazer.
1.2. O conteúdo do discipulado
Para alcançar seu propósito, Jesus desenvolve um plano de ensino contínuo que tinha como objetivo consolidar o estilo de vida do mestre na vida de seus discípulos e capacitá-los para reproduzir isso na vida de outros. Tudo isso faz parte da didática de Jesus para este novo tempo, um processo de aprendizagem que ocorre de forma relacional e experiencial na vida de cada discípulo individualmente.
Barro (2018, p. 73) afirma que “é nas parábolas que encontramos a maioria dos ensinamentos de Jesus a respeito da missão”. Portanto, a análise das parábolas pronunciadas por Jesus no decorrer da narrativa da viagem traz à evidência os temas basilares para a formação dos discípulos: o amor ao próximo, a vida de oração, o perigo da avareza, a importância da obediência, a humildade e o arrependimento.
No processo do discipulado, Jesus utilizou vários recursos didáticos, bem como uma grande diversidade de temas, a fim de capacitar os discípulos para a missão. Um tema que merece análise e exposição mais detalhada é “o custo do discipulado”.
1.3. O custo do discipulado
Jesus começa a falar sobre o custo do discipulado na fase final do ministério na Galileia. Ele sabe que a cruz está próxima, é momento, então, dos discípulos começarem a se preparar para uma identificação cada vez mais profunda com o Cristo. Faz-se necessário ter uma compreensão plena de todas as implicações dessa identificação. É hora de começar a perceber para onde esse caminho que eles tomaram vai conduzi-los.
Então, os discípulos descobrem que a sua perfeita identificação com o Cristo passa necessariamente pela cruz (Lc 9:23). Do mesmo jeito que o compromisso de Jesus com o projeto do Pai implicava em que Ele renunciasse à própria vida, assim também um discípulo de Jesus precisava estar disposto a negar-se a si mesmo, a mortificar os seus projetos pessoais, para se estabelecer na sua vida o projeto de Deus.
A missionalidade de cada discípulo de Jesus começa a se estabelecer quando a mortificação do eu se torna realidade. São essas as palavras iniciais de Jesus: “Se alguém quer vir após mim…”. Não há uma imposição da parte de Jesus quanto a isso, porém há uma exposição clara de que é um pré-requisito para ser um autêntico discípulo seu.
É necessário que todo seguidor de Jesus compreenda plenamente que o cristianismo está intrinsecamente ligado à cruz. Não há possibilidade de ser discípulo de Jesus sem carregar diariamente sua própria cruz. Esta é uma afirmação enfática de Jesus: “E quem não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14:27). Outra declaração contundente de Jesus sobre o discipulado missional é encontrada em Lucas 9:62: “Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o reino de Deus”. Nascimento Junior (2017, p. 113) afirma que:
A cruz é a prova suprema da fidelidade de Jesus. Carregar a cruz, segundo Jesus indica, só faz sentido se expressar fidelidade a uma missão. Tomar a cruz indica diretamente seguir Jesus, sendo fiel a ele. Dessa forma, fica mais fácil entender que, quando ele indicava tomar a cruz, dizia que era necessário segui-lo e abraçar sua causa.
Um relacionamento com Cristo se caracteriza por uma fidelidade absoluta, motivando o discípulo a proclamar o reino de Deus, mesmo ciente de que, por causa de Cristo, possa enfrentar ódio, rejeição e até mesmo a morte.
Hull (2022, p. 81) alerta que “é difícil viver num mundo opulento, privilegiado e egocêntrico e manter a santidade, a integridade e o serviço leal a Cristo. Devemos rejeitar as vozes culturais e resistir às refinadas tentações destinadas a destruir nossa fé”.
Mesmo que Jesus não tenha empreendido nenhum tipo de pressão para que o seguissem, muitas pessoas se aproximaram de Jesus durante seu ministério terreno, atraídas por seus ensinamentos, impressionadas por seus milagres e com expectativas em relação a ele. Percebe-se que:
A curiosidade pode até despertar interesse pelo discipulado, mas não é suficiente para constituí-lo. Se o seguidor não é consciente das demandas do discipulado, então não é capaz de avaliar adequadamente o seu custo. Por conseguinte, o seguidor terá dificuldade em seguir Jesus consciente do verdadeiro significado do discipulado. A necessidade da consciência do custo do discipulado é a razão da exortação de Jesus, obviamente direcionada não aos doze, mas à grande multidão que o seguia. (Madureira, 2019, p. 32, 33)
Foi a partir da compreensão dessa realidade da multidão que não atende ao propósito missional dos discípulos que ele chamou, ensinou, comissionou e passou a falar sobre o custo do discipulado.
O discipulado nasce do chamado pessoal de Jesus para segui-lo, convidando as pessoas a participarem de sua missão. Isso requer um compromisso incondicional com Jesus. Não se trata apenas de acompanharem Jesus, mas de um processo de aprendizado e transformação pessoal, com o objetivo de se tornarem agentes do reino de Deus.
2. O discipulado missional urbano dos primeiros cristãos
O processo de urbanização do povo judeu teve início durante a monarquia. No entanto, a narrativa bíblica nos evangelhos revela que, mesmo após tantos séculos, a urbanização no território palestino ainda era muito restrita. Até as cidades identificadas nessa narrativa tinham a maior parte de seu território inserida em um contexto predominantemente rural. Considerando a narrativa do evangelho de Lucas (e dos demais sinóticos), pode-se dizer que o ambiente onde Jesus desenvolveu seu ministério era majoritariamente rural.
2.1. O ambiente urbano dos primeiros discípulos
A transição do ambiente rural palestino para o ambiente urbano greco-romano foi se desenvolvendo gradativamente, conforme os discípulos foram se comprometendo com o comissionamento de Jesus: “que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando em Jerusalém” (Lc 24:47). A partir de Jerusalém, os discípulos de Jesus embarcam em uma jornada “de cidade em cidade” praticando a missão de fazer discípulos de todas as nações: “Capacitados pelo Espírito Santo, os discípulos são chamados a proclamar a mensagem do reino de Deus nas cidades do mundo, começando de Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da terra” (Barro, 2018, p. 107).
O ambiente urbano torna-se a realidade primária dos primeiros cristãos, como é possível notar a partir da narrativa de Lucas no livro de Atos. Essa narrativa também possibilita uma reflexão sobre a contribuição do discipulado missional na consolidação da fé cristã na vida do indivíduo, sua influência positiva no convívio social e sua ação transformadora nas cidades do seu tempo.
2.2. A vida comunitária dos primeiros discípulos
A mensagem de “arrependimento para remissão de pecados” teve um impacto significativo, especialmente no ambiente urbano, por meio da vida comunitária da igreja primitiva. Os vínculos fraternais fortes destacaram uma comunidade caracterizada pelo amor genuíno, manifestado de maneira autêntica no cuidado com os menos favorecidos economicamente: “Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum” (At 4:32b).
O amor era a expressão máxima dos primeiros cristãos. A visibilidade do amor divino derramado nos corações humanos era notória: “Da multidão dos que creram era um o coração e a alma” (At 4:32a). A unidade entre aqueles que criam em Jesus é uma consequência da necessidade de a igreja testemunhar o amor de Deus aos homens, tanto dentro quanto fora de seus limites visíveis.
Organizava-se o grupo em parâmetros decididamente igualitários. Os primeiros cristãos de Jerusalém praticavam a posse comunitária dos bens (At 2:44-47). As mulheres desempenhavam papel tão importante como os homens. Escravos(as) libertos(as) participavam da mesma forma que os livres por nascimento. (Stambaugh, 1996, p. 48)
O caráter comunitário da inserção em Cristo levou os discípulos a compreender sua identificação com de Cristo, vivendo em comunidade sem desconhecer a singularidade de cada pessoa.
A morte de Cristo tinha como um de seus efeitos a destruição do muro que separava judeus de gentios, criando uma nova humanidade e reconciliando todos em um só corpo (Ef 2:14-16). Esse dom da comunhão experimentado na igreja não deveria permanecer confinado; pelo contrário, deveria ser estendido a todo ser humano, pois a missão da igreja era evangelizar todas as nações. Dessa forma, o amor desempenhava seu papel profético.
A igreja dos primeiros cristãos atendeu de forma efetiva e afetiva o grande desafio de manifestar o cuidado de Deus com a humanidade, agindo de tal forma que o ser humano urbano se sentiu acolhido em sua comunidade, sendo envolvido em relacionamentos em que se percebia o cuidado de Deus por sua vida e por sua família, a fim de que a vida de Cristo fosse gerada na sua própria vida.
O amor vivido na comunidade cristã primitiva impactou a sociedade daquela época e transformou cidades. Não há nada maior que o amor, pois ele é a seiva de toda a vida de comunhão e nutre em nosso coração o dom da fé e da esperança.
3. Práxis pastoral urbana transformadora
No atual contexto social, observa-se uma crescente tendência das pessoas em se tornarem cada vez mais egocêntricas, focadas majoritariamente em seus projetos pessoais. Além disso, estabeleceu-se uma visão utilitarista do evangelho, evidenciando quão grande é o desafio da implementação de um processo de discipulado missional nos moldes daquele desenvolvido por Jesus.
3.1. A realidade do cidadão urbano na atualidade
Essa conjuntura tem proporcionado um estilo de vida no qual o cidadão urbano está cada vez mais sozinho, apesar da explosão demográfica sem precedentes das cidades, do avanço da tecnologia e até do crescimento das igrejas.
De acordo com essa leitura, o avanço tecnológico, com todos os seus benefícios sociais e, principalmente, na área da comunicação, não é suficiente para preencher o vazio do ser humano nas cidades.
Padilla (1992, p. 141) declara que “talvez a necessidade mais urgente relacionada com o rápido crescimento da igreja seja uma nova ênfase num discipulado cristão que inclua a submissão de toda a vida ao senhorio de Jesus Cristo”, uma estratégia que promova relacionamento interpessoal realizado por pessoas que um dia também foram consolidadas por meio do discipulado de outro, a fim de contribuir efetivamente para o ministério urbano atuar de forma eficaz na transformação da cidade.
Sabe-se que é a partir da transformação pessoal que a implantação do Reino de Deus se torna possível no contexto de cada ser humano e, consequentemente, da comunidade em que ele está inserido.
Parece tão paradoxal o contexto urbano atual. De um lado, as cidades no mundo todo experimentam uma explosão demográfica sem precedentes; do outro, seus habitantes estão cada vez mais sozinhos. E isso fortalece a tese de que não dá para propor transformação da cidade sem transformar a realidade do indivíduo.
3.2. A ação da igreja diante dessa realidade
Uma igreja comprometida com o chamado de Jesus é um conjunto de pessoas que, onde estiver e por onde passar, faz discípulos de Jesus, ensinando a estes a viverem em submissão ao senhorio de Cristo.
Segundo Padilla (1992, p. 142):
Uma das necessidades mais urgentes na igreja atualmente é a fé no poder do evangelho como uma mensagem de libertação do mundo, visto como um sistema sob o domínio dos deuses da sociedade de consumo criada pela tecnologia ocidental. Não há maior contribuição que a igreja possa dar à humanidade que o evangelho de Jesus Cristo em seu poder libertador.
Padilla (1992, p. 142) destaca que, “num mundo que está se urbanizando rapidamente, a cidade é, sem dúvida, o símbolo do desafio que a evangelização e o discipulado colocam para a igreja”.
Por mais bem elaborados e bem-intencionados que sejam outros modelos, tem-se a convicção de que o “sucesso” do ministério pastoral urbano só tem uma ferramenta eficaz: o discipulado missional.
Os discípulos devem buscar e formar novos discípulos. Não obstante, o egoísmo que leva àqueles que procuram os seus próprios interesses desejarem ficar sozinhos, os que buscam o interesse de Cristo querem que haja mais discípulos, para mais trabalho poder ser feito, mesmo que eles possam ser eclipsados por isso. O ministério da multiplicação de discípulos é uma perspectiva bíblica posta em prática por Jesus. É uma abordagem das Escrituras que ajuda a cumprir a sua Grande Comissão (Mt 28:18-20).
Para Bonhoeffer, o discipulado nasce do chamado do próprio Jesus para segui-lo. Um chamado para tomar, cada um, a sua cruz, renunciando o próprio “eu” e se dispondo a viver uma obediência sincera a tudo quanto Cristo ensinou e ordenou, levando o leitor a compreender a profundidade da verdadeira fé em Cristo Jesus e reconhecer o alto preço do discipulado. Afinal, “o discipulado é compromisso com Cristo; porque Cristo existe tem de haver discipulado” (2016, p. 34). Esse compromisso inicial com Cristo conduz a uma postura de responsabilidade para com a sociedade em que se está inserido.
Conclusão
A vocação para o discipulado implica uma rendição incondicional a Cristo. Essa atitude deve estar embasada na compreensão clara do senhorio de Cristo sobre a vida do discípulo. Dessa forma, o que se espera do discípulo é que esteja disposto a seguir os ensinamentos de seu Mestre. Assim sendo, as pessoas vão sendo transformadas à semelhança do caráter de Cristo para poderem reproduzir a vida de Cristo em outras pessoas. É a partir dessa transformação pessoal que a implantação do reino de Deus se torna possível no contexto de cada ser humano e, consequentemente, da comunidade em que estão inseridos.
Durante todo o ministério de Jesus, ele esteve anunciando o “evangelho do Reino” em seus discursos particulares e nos sermões públicos, curando enfermos, libertando os oprimidos, ressuscitando mortos; em suas palavras, em suas ações, com a sua vida, ele proclamou em alto e bom tom que a sua prioridade era anunciar o Reino de Deus aos homens e comissionar homens para dar continuidade a este anúncio.
Na expressão de George e Carriker (2018, p. 62), o reino de Deus que Jesus anuncia é tão diferente dos reinos deste mundo que chega a ser um “reino invertido”, no qual bem-aventurados são os pobres, os que têm fome, os que choram, as pessoas rejeitadas. O estilo de vida proposto aos súditos desse reino é radical e desafiador: amar aos inimigos, cuidar dos que os odeiam, abençoar os que os amaldiçoam, orar pelos inimigos, oferecer a outra face e usar misericórdia com todos (Lucas 6:20-38).
Nesse sentido, o discipulado foi a estratégia missional utilizada por Jesus Cristo para fazer as pessoas chamadas por ele se tornarem cristãos maduros, capazes de reproduzir a vida dele em outras vidas. Randy Pope (2017, p. 25), chama isso de modelo vida-a-vida [sic].
Referências bibliográficas
BARRO, Jorge Henrique. De cidade em cidade: elementos para uma teologia bíblica de missão urbana em Lucas-Atos. 3. ed. Londrina: Descoberta, 2018.
BARTH, Karl. Chamado ao discipulado. São Paulo: Fonte Editorial, 2006.
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. São Paulo: Mundo Cristão, 2016.
GEORGE, Sherron K.; CARRIKER, Timóteo. O Evangelho de Lucas: um mergulho missional. 2. ed. Londrina: Descoberta, 2019.
HULL, Bill. Conversão e Discipulado: você não pode ter um sem o outro. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2022.
MADUREIRA, Jonas. O custo do discipulado: a doutrina da imitação de Cristo. São José dos Campos: Fiel, 2019.
NASCIMENTO JUNIOR, Maurino Marques. Exigências indispensáveis para ser discípulo de Jesus: um estudo exegético-teológico de Lc 14:25-33. 2017. 144 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Teologia, Teologia Bíblica, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2017.
PADILLA, C. René. Missão integral: ensaios sobreo reino e a igreja. São Paulo: FTL-B e Temática, 1992.
POPE, Randy. O discipulado na igreja local. Viçosa: Ultimato, 2017.
STAMBAUGH, John E.; BALCH, David L. O Novo Testamento em seu Ambiente Social. São Paulo: Paulus, 1996.
STETZER, Ed; PUTMAN, David. Desvendando o código missional: tornando-se uma igreja missionária na comunidade. São Paulo: Vida Nova, 2006.
Sobre o autor: José Iltemar da Silva, mestre em Teologia pela FTSA;
Graduado em Teologia pela Universidade Metodista de São Paulo – UMESP; Coordenador do curso de Graduação em Teologia da Faculdade Cidade Teológica Pentecostal – FCTP
Contato: re********@ad******.org