Editorial | A Igreja e o Desafio da Contextualização – Por Jonathan Menezes

O ano de 2020 certamente ficará marcado como um dos mais difíceis já vivenciados na história humana, deixando marcas profundas no modo como nos comportamos, como interpretamos a realidade e como nos relacionamos uns com os outros, conosco mesmos e com nosso mundo. As lições que a nova condição de vida provocada pela pandemia do coronavírus deixam, porém, são incontáveis – se estivermos devidamente acordados para notar, é óbvio. Para muitas dessas possibilidades de aprendizado ainda nem sequer acordamos, já que ainda estamos no “olho do furacão” e uma vez que também se observa no comportamento das pessoas um cansaço dessa situação toda e o desejo de que as coisas voltem logo a ser como eram.

Compreensível. Porém, será esse o melhor cenário para a humanidade? Isto é, será razoável que saiamos dessa situação sem ter aprendido nada ou bem pouca coisa sobre nós mesmos? Que entremos em uma nova era desejando que ela se pareça muito com a antiga? Afinal, quem éramos nós antes disso tudo começar no início de 2020? O que estamos nos tornando enquanto essa situação perdura, e o que esperar de nós, humanidade, quando voltarmos a respirar o mundo fora de máscaras protetoras? Ao retirarmos as máscaras que nos ajudam a prevenir a propagação do vírus, retiraremos também aquelas que nos impedem de evoluir humanamente, como sociedade e também como Igreja?

Falando na Igreja, existem desafios particulares que a concernem também. Muitas comunidades precisaram se adaptar aos novos tempos, sem poder depender tanto do que acontece nos templos – realidade que vem mudando nos últimos meses com o retorno de encontros presenciais aqui e acolá. Mas definitivamente as igrejas tiveram que entrar de cabeça no modelo online e usar a criatividade para manter seus membros “conectados”, mesmo à distância. Terá sido essa uma experiência bem-sucedida? No começo provavelmente, mas num segundo momento nem tanto. Pessoas se fadigaram de lives e cultos online ao perceberem que estas são ferramentas úteis, mas nem sempre oferecem uma experiência qualitativa; além do fato de que nem todo mundo tem acesso fácil ao mundo virtual. Que oportunidades de aprendizado e de reinvenção restam para as igrejas e seus líderes durante e após a pandemia?

Esse é um número que trata, ao menos parcialmente, desse tema. Quando convidamos autores e autoras para escrever sobre “A Igreja e os desafios da contextualização” não tínhamos ainda o cenário pandêmico à nossa frente. No meio do processo, fomos desafiados a pensar de que modo as igrejas podem contextualizar sua presença e atuação, bem como a proclamação do Evangelho em meio à pandemia. É o que se propuseram a fazer Alan Brizotti e Vanessa Carvalho, pela ótica da pregação e do cuidado terapêutico respectivamente, nos artigos que abrem o número. Além deles, Felipe Nakamura pensa o desafio de pastorear a juventude imersa em um contexto pós-moderno. Mariana Schietti trata dos significados da cruz para a igreja contemporânea a partir dos Evangelhos, e André Borges finaliza o número com um olhar sobre os diversos modos de perceber e interpretar a realidade. Porque é a isso que esses tempos nos convidam, não é mesmo? Novas interpretações e novas práticas geram uma nova realidade.

Muito obrigado por escolher nossa revista e espero que aprecie a leitura.

Jonathan Menezes

Sobre o autor
Jonathan Menezes é Doutor em História pela UNESP/Assis, Professor da Faculdade Teológica Sul Americana e Editor-chefe da Práxis Missional.
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